LUIS KOHLER

Não é só um Paracetamol: O que você precisa saber antes de se automedicar?

· 3 minutos de leitura
Não é só um Paracetamol: O que você precisa saber antes de se automedicar?

Você já se automedicou alguma vez? Diante de uma dor de cabeça, qual sua primeira atitude? Para muitos brasileiros, a resposta é recorrer àquele comprimido conhecido. A automedicação, embora pareça uma solução rápida para sintomas leves, esconde riscos significativos para a saúde.

Os números não deixam dúvidas: de acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da Fiocruz, os medicamentos lideram as causas de intoxicação no Brasil, com mais de 30 mil casos registrados em 2022, majoritariamente em ambiente doméstico e com medicamentos de uso comum.

Uma pesquisa do Conselho Federal de Farmácia (CFF) revela que alarmantes 77% dos brasileiros já se automedicaram, e mais de 40% repetem o uso de medicamentos por conta própria, baseados em experiências passadas, sem qualquer orientação profissional.

Analgésicos, antitérmicos, anti-inflamatórios… Medicamentos de venda livre podem parecer inofensivos, mas seu uso indiscriminado pode gerar reações adversas inesperadas. Por exemplo, o uso contínuo de alguns anti-inflamatórios pode levar a problemas gastrintestinais sérios, como sangramentos e úlceras.

Além disso, esses medicamentos podem sobrecarregar órgãos vitais como o fígado e os rins, e interagir perigosamente com outros medicamentos que você já utiliza ou com alguma condição de saúde preexistente. O risco é ainda maior para idosos, crianças e pessoas com comorbidades, que possuem organismos mais vulneráveis.

Outro perigo silencioso da automedicação é o mascaramento de sintomas. Aquele alívio temporário da dor pode adiar a identificação de uma condição mais grave. Imagine uma dor abdominal que parece passageira e é tratada com um analgésico simples. Essa atitude pode mascarar uma apendicite ou outra emergência médica, comprometendo a eficácia do tratamento e colocando sua vida em risco.

Em meio a esse cenário preocupante, o farmacêutico emerge como um aliado fundamental na promoção do uso racional de medicamentos e na proteção da sua saúde. Presente em farmácias e drogarias, esse profissional possui o conhecimento e a expertise necessários para orientar o paciente de forma segura e eficaz. Ele pode esclarecer suas dúvidas sobre medicamentos, verificar possíveis interações perigosas com outros remédios que você esteja tomando, avaliar seus sintomas e, quando necessário, recomendar a busca por atendimento médico.

O farmacêutico é, muitas vezes, o primeiro ponto de contato com o sistema de saúde. Seu papel vai muito além da simples dispensação de medicamentos. Ele atua ativamente na prevenção de erros de medicação, na promoção da adesão ao tratamento prescrito e, crucialmente, na orientação sobre o uso adequado de medicamentos isentos de prescrição, alertando sobre seus riscos quando utilizados de forma inadequada.

É fundamental distinguir o autocuidado da automedicação. Autocuidado envolve a atenção ao próprio corpo, a adoção de hábitos saudáveis, o reconhecimento de sinais de alerta e a busca por ajuda profissional qualificada quando necessário. Já a automedicação é a ação de tomar medicamentos por conta própria, sem o conhecimento e a orientação de um profissional de saúde. É nessa autonomia desinformada que reside o grande perigo.

Buscar orientação, mesmo para sintomas considerados leves, é um ato de responsabilidade com a sua saúde. Em vez de confiar apenas na memória ou em experiências passadas, confie em quem dedicou anos de estudo para entender a complexidade dos medicamentos e seus efeitos no organismo.

Por trás daquele comprimido aparentemente inofensivo, pode existir um risco invisível. A automedicação, embora culturalmente aceita por muitos, é uma prática que precisa ser revista com urgência. A informação e o acesso à orientação correta – especialmente com o apoio do farmacêutico – são ferramentas poderosas para transformar essa realidade e proteger a sua saúde.

Portanto, da próxima vez que surgir a dúvida: “Será que posso tomar isso?”, lembre-se que a resposta mais segura e confiável pode estar a poucos passos de distância – dentro da própria farmácia, na conversa com o farmacêutico. Sua saúde agradece essa atitude consciente e responsável.

Luís Köhler é farmacêutico, Especialista em Farmacologia e Farmácia Clínica, possui MBAs em Inovação e Empreendedorismo e Liderança e Coach na Gestão de Pessoas. É especialista em Gestão Regulatória de Farmácias e Drogarias e Presidente da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Farmácias Comunitárias (SBFFC-MT)