Conteúdo/ODOC - O Ministério Público Estadual (MPE) recorreu da decisão que soltou os policiais militares Jorge Rodrigo Martins, Wailson Alesandro Medeiros Ramos, Wekcerlley Benevides de Oliveira e Leandro Cardoso, todos da Rotam. Eles foram alvos Operação Office Crime – A Outra Face, que investiga o assassinato do advogado Renato Nery, ocorrido em julho de 2024, em Cuiabá.
Segundo o MPE, os PMs forjaram um confronto armado com o objetivo de plantar no local a pistola Glock G17 usada no homicídio de Nery. A suposta encenação resultou na morte de Walteir Lima Cabral e na tentativa de homicídio de dois adolescentes. Os quatro também respondem por fraude processual, porte ilegal de arma de fogo e organização criminosa.
A soltura foi autorizada pelo juiz Francisco Ney Gaíva, da 14ª Vara Criminal de Cuiabá, em 29 de maio, mediante imposição de medidas cautelares como recolhimento domiciliar noturno e proibição de contato com testemunhas.
No recurso, o MPE argumentou que a decisão desconsidera a gravidade dos fatos e coloca em risco a investigação e a ordem pública.
“O modus operandi evidenciado nos autos revela elevado grau de reprovabilidade social, além de clara subversão dos princípios que regem a atividade policial. Conforme apurado, os recorridos teriam agido sob uma lógica de suposto ‘justiçamento’, assumindo, de forma ilegítima, a função jurisdicional do Estado e antecipando, de maneira arbitrária, uma punição extrema e vedada pelo ordenamento jurídico pátrio”, consta no documento.
No entendimento do Ministério Público, as medidas cautelares impostas pela Justiça são “inadequadas e insuficientes” para neutralizar os riscos ao processo.
“Há elementos que indicam a possibilidade concreta de que os recorridos, valendo-se de vínculos institucionais e de sua inserção na estrutura policial, possam interferir na colheita da prova, por meio da supressão de elementos relevantes, intimidação de testemunhas ou direcionamento indevido da instrução”, afirmou o MPE.
“Diante desse cenário, a segregação cautelar permanece como medida necessária e adequada para assegurar a lisura da apuração, proteger a integridade da instrução criminal e preservar a confiança da sociedade no sistema de justiça penal”, pediu o Ministério Público.
O caso
De acordo com o processo, o suposto confronto ocorreu na madrugada de 12 de julho de 2024, uma semana após o assassinato de Renato Nery, no bairro Pascoal Ramos, em Cuiabá. Os PMs alegam ter localizado três suspeitos de roubar um carro e que houve troca de tiros, resultando na morte de um deles e ferimentos em outro. O terceiro suspeito teria fugido.
No boletim de ocorrência, os policiais afirmam que os criminosos estavam armados com uma Glock G17 e uma pistola Jericho. No entanto, a perícia não encontrou cápsulas deflagradas dessas armas no local. A Polícia suspeita que os próprios PMs tenham "plantado" as pistolas na cena.
Segundo o MPE, a vítima sobrevivente declarou que o roubo foi cometido com uma arma falsa comprada pela internet. A vítima do roubo também relatou que viu apenas uma arma com os assaltantes. As duas pistolas supostamente apreendidas foram entregues pelo sargento Jorge Rodrigo Martins ao delegado Rodrigo Azem, então titular da Delegacia de Homicídios.