GABRIEL NOVIS NEVES

Estatísticas humanas

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Estatísticas humanas

Planejei minha vida para viver sempre acompanhado pela mulher que escolhi, quase dez anos mais nova que eu.

Não me preparei para viver tantos anos viúvo.

Pela lógica das estatísticas humanas, eu deveria ter partido antes dela, considerando a diferença de nossas idades.

Mas Deus decidiu de outra forma.

Tive que aprender a sobreviver de outro jeito e, até hoje, não encontrei um modo definitivo, embora tenha tentado.

Durante o tempo de casado, era sempre ela que cuidava das estatísticas do casal — e acertava.

Imaginem como fiquei sem ela!

Transformei-me em uma verdadeira barata tonta, sem saber o que fazer.

As estatísticas humanas ocorrem como Ele quer, e não como planejamos, fazendo da vida terrestre uma verdadeira caixinha de segredos.

Olhando para trás, tento compreender tudo o que vivemos juntos.

Como médico, por dever de ofício, fico muitas vezes impotente diante dos problemas de saúde que surgem — problemas cujas soluções não se encontram nos livros, mesmo com toda a evolução da medicina.

Quando chegamos à reta final, nada mais é levado tão a sério, e esperamos, com certa resignação, a nossa vez de partir deste para o outro plano espiritual.

A vida, afinal, é uma caixinha de segredos.

E eu, que tanto acreditei nas estatísticas, estou há mais de dezoito anos sem a companheira mais jovem que me acompanhava.

Meu avô ficou viúvo duas vezes e, então, passou a viver jogando xadrez, até seus últimos dias.

Um amigo poeta, que também ficou só, dizia que tinha as estrelinhas, o céu e o violão como consolo.

Quanto a mim, meus filhos, netos e bisnetos são o oxigênio da minha alma —são eles que me mantêm vivo.

Ainda assim, não posso deixar de pensar como eu seria feliz se a estatística não tivesse falhado comigo.

Estaríamos reunidos, curtindo as coisas boas que Ele nos concedeu.

Unidos, seríamos mais fortes para enfrentar os empecilhos da vida.

Gabriel Novis Neves é médico, ex-reitor da UFMT e ex-secretário de Estado